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Crónicas da purga pandêmica #4 (18.04.21)
Quatro polícias portugueses em Lisboa contra uma mulher, com direito a joelho e tudo.
Márcia: Certo dia encontrei alguém que me garantiu que Deus não existe. Perguntei-lhe se podia provar e ele matou-se para confirmar-me que não voltava em espírito. Era um ateu radical. Uma daquelas pessoas que vive ancorada à matéria. Não voltou, de facto. Ou pelo menos nunca mais o vi. Mas nunca consegui afastar a dúvida de se não seria ele um narcisista com complexo de Messias…
Tiago: “Se o mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalada.
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar- me para pensar o amanhã... Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã... Só a verdade, esta verdade que arde agora em mim, será reconhecível.
Crónicas da purga pandêmica #11 (15.07.21)
O ARTISTA DO REGIME é moralista mas não tem moralidade
O ARTISTA DO REGIME oferece chapadas a quem não usa máscara e é aplaudido. Para além de dizer a alto e a bom som que ele faz porque pode, isto num país onde é preciso um padrinho ou madrinha para se ser alguém ou então ter nascido na família certa.
O ARTISTA DO REGIME agradece à DGS (DGS= Direcção Geral de Saúde ou Direção Geral de Segurança.) Se não fosse triste dava uma boa piada.
O ARTISTA DO REGIME é uma pequena marioneta de propaganda com as suas selfies a levar a vacina da moda e escreve frases como “Obrigada ciência”, como se de um culto se tratasse.
Os mais alternativos até tiram selfies com as enfermeiras/os, ou fazem pequenas montagens “Artie”.
Ah claro, os mais tímidos tiram selfies do papel que prova que são bem comportados, numa espécie de prova moral.
Já para não falar das piadas repetidas do 5G, Wi-Fi, chip, etc. Eu que adoro uma boa piada estava à espera de mais criatividade.
O ARTISTA DO REGIME escreve grandes tiradas demagógicas sobre a liberdade e a censura. Sobre a democracia e o fascismo, mas está calado quando é aprovada uma lei de censura e ainda faz e aplaude programas de Tv a defender o indefensável.
O ARTISTA DO REGIME defende que existem pessoas a que se deve retirar o direito ao Serviço Nacional de Saúde em nome das regras do seu mandante o regime.
O ARTISTA DO REGIME peca pela sua pobreza de espírito e de obra.
O ARTISTA DO REGIME pública vítimas históricas sem perceber que ele seria o Algoz nunca o Herói .
O ARTISTA DO REGIME “regimenta” um bando de famintos porque pode.
O ARTISTA DO REGIME está calado bem caladinho não vá perder o apoio, a programação ou o trabalho.
Também há aqueles que passam pelas gotas da chuva, não falam de nada controverso a não ser as lutas da moda. Assim, seja para onde pender a História poderão sempre dizer que estavam do lado certo. Estes são mais inteligentes mas são os piores são os artistas do regime que sabem jogar politicamente com o Zeitgeist.
MORTE A O ARTISTA DO REGIME, PIM !!!
Crónicas da purga pandêmica #13 (20.08.2021)
A FÁBULA DA CENSURA
Existia um médico, especialista em anestesiologia de nome Pedro Girão que escreve um "artigo de opinião" num jornal de referência e como o nome indica É UMA OPINIÃO, embora seja uma OPINIÃO que vai Contra- Corrente, (não gosto do termo que se utiliza em Portugal, parece-me pornôgráfico a utilização do termo *"negacionista")
*Uma vergonha para todos os intelectuais, comentadores e afins que o utilizam. Querer o debate, existir contraditório, transparência parece-me saudável em qualquer regime democrático e porque não dizê-lo cientifico. Ainda para mais se tantos direitos antes conquistados de alguma maneira estão a ser postos em causa em nome de um estado de emergência.
Mas voltando à fábula. O médico anestesiologista dá a sua opinião contra a narrativa oficial, a direção do jornal retira o artigo porque vai contra as suas "narrativas" e pede desculpa. "- Nós censuramos mas somos bem educadinhos. Até pedimos desculpa aos leitores".
A mesma direção coloca então um artigo pró narrativa oficial, com outro médico, que adora aparecer na televisão e ser uma espécie de messias mediático da pandemia catastrófica e suas medidas.
Eu pessoalmente não o suporto é vaidoso, e como se diz em bom português é um “cagão” , peço desculpa pela linguagem rasteira. Mas esta é a minha opinião empírica, vale o que vale que é nada. Bem, mas sem ir à biografia pseudo - emocional. São duas opiniões diferentes sobre a vacinação de crianças, cada um tem um estilo de escrita própria.
Em vez da direção do dito jornal me pedir desculpa e Censurar, o velho lusitano lápis azul. 25 de abril sempre!! Fascismo nunca mais!!!!
Eu adulta, cidadã posso ler duas opiniões divergentes, posso pensar?!?
Um vírus.... A censura a olhos visto e o silêncio.... O silêncio "e essa mansidão quase vegetal, de ser português" como dizia o poeta.
E NÃO, NÃO ESTOU A FALAR DE VACINAS.
Estou a falar de LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DE IMPRENSA...
- Ah! Lembrei-me agora, estamos quase a celebrar os 50 anos de Abril. E o Assange continua preso.
Crónicas da purga pandêmica #14 (21.09.2021)
PORTUGAL 2021.
A Rábula da Censura reinante. 25 de Abril Sempre. O silêncio mata.
„PÚBLICO“ (jornal português de 2021, considerado liberal, num regime democrático que vai celebrar 50 anos de Abril“) = „VöLKICHER BEOBACHTER“ ( jornal alemão do partido nazi, a contextualização histórica fala por si.)
Continuo à espera de posts, comentários, artigos de opinião de todos os que trabalham para o dito jornal ou escrevem no mesmo que digam da sua justiça sobre a decisão editorial de „CENSURA“ e de „assassinatos de caracter“ que o dito jornal defende.
Manifesto assinado.
Ana: Não, pelo contrário! Eu quero encher-te de esperança. Parece contraintuitivo, eu sei, mas a esperança, a fé, são contraintuitivas. Se olhares para o caos, para o absurdo e apenas procurares uma mensagem positiva, encontrar o que há de positivo, o teu terreno fica cada vez menor, o horizonte cada vez mais perto até que se torna numa cadeia de montanhas. Com isto, não quero dizer que não há beleza e profundidade em tudo. Há e creio que basta olhar para encontrar o caminho na coisa mais pequena. Mas falo de outra coisa. Naquela esperança em que um dia virá, onde a compaixão e amor reinarão, em que seremos de facto irmãos unidos com todas as coisas. Mas essa esperança só pode nascer do real e da vontade de agir sobre ele. Com toda a inocência, mas conscientes de que uma pedra é uma pedra e não um pão. Perceber as coisas pelo que são enche-me de esperança. De que um dia todos olhem para a pedra e não vejam um pão. Dá-me esperança que um dia seja a razão e a consciência quem sobe ao trono e não representantes do divino, seja ele qual for.
Nasce-me a esperança nos outros, volto a acreditar que tudo é possível, a utopia é possível, humanamente possível. Estarmos juntos, talvez pela primeira vez na história da nossa espécie. Mães, avós, filhos, pais, bisavós, trisavós, todos irmãos.
Gostava mesmo de partir com os olhos no caminho do tal amanhã que canta.
Crónicas da purga pandêmica #17 (21.12.21)
Hoje fui às compras de Natal.
Fiz o teste, já uma rotina quotidiana. Pois de outro modo não posso apanhar transportes públicos e está muito frio para andar de bicicleta.… 20minutos depois… Negativo… Bebi o meu café na rua…. Vai nevar…. Está frio de neve… Saio na Alexanderplatz e vou ao Alexa. Uma grande superfície. Gosto de fazer as minhas compras em lojas locais mas tendo em conta o tempo que vivemos e a minha „condição“ fui ao „shopping“. A maravilhosa T acompanhou-me… Entrámos na Grande superfície de consumo, como tantos outros nesta altura do ano, colocámos a indumentária necessária (a máscara). E fomos as duas até à loja que eu queria ir. Para comprar a prenda da minha filha. Está calor no corredor do shopping … penso no frio lá de fora… A T apresenta o seu certificado digital. Eu como não vacinada fico do lado de fora. Já tínhamos combinado como fazer. Aquela loja específica tem janelas grandes. Um muro de vidro divide-nos dentro daquela grande casa de consumo. Ela luminosa como é vai-me mostrando as várias peças para eu escolher. Usamos a linguagem do Facebook. Polegar para cima é bom…. Polegar para baixo é mau…. Preço? 4.. 5.. Dizem os dedos. Volto a uma memória de criança? 40..50…. A prenda foi escolhida. Alguém lá dentro pergunta a T o que se passa. „-Porque não pode entrar?“. Ela responde.
Fantasio que quem pergunta é do Chile. Ele olha para mim e sorri. Eu retribuo e ali cada um no seu lado do muro de vidro encontra-se no lugar de quem ainda tem a coragem de olhar. A prenda foi comprada. Despedi-me do rapaz que estava na porta a controlar a entrada para a loja onde só vacinados e recuperados podem entrar. Ele olhava para o chão. Sorri e desejei Bom Natal. Ele continuava a olhar para o chão. Será vergonha?!? De ter de lidar com uma situação no mínimo „sui generis“ num país dito democrático e livre.
Como chegámos aqui e aceitámos?
O silêncio e a cumplicidade dos artistas enoja-me.
Farta da conversa proto libertária do artista contemporâneo da tanga. Cheio de palavras grandes e densas. Tanto grito „abaixo o fascismo“ e tanto silêncio, cobardia e moralismo.
FALTA ÉTICA.
Vou ter um Natal branco de neve. Esta história é real. Eu sou uma cidadã de segunda Ou utilizando o imaginário da moda sou uma „Untermensch“.
Bom Natal e muito amor.
FIGURANTES DA GRANDE NOVELA GLOBAL UNI-VOS!!!!
Nós, os figurantes que somos a maioria, estamos na mão de uma minoria protagonista que lucra sempre.
NÓS, os que já nascemos em estados democráticos. NÓS que fazemos parte do *condomínio fechado que crescemos a acreditar de facto que é possível um mundo mais igualitário, humanista, empático.
NÓS, que vimos e lemos muitos documentários das várias lutas pela liberdade no séc.XX e fomos formados, educados, programados....
NÓS (qualquer alusão, referência, apropriação do nome do romance distópico de Evgéni Ivánovitch Zamiátin. Não é coincidência.)
*Condomínio Fechado: (Europa, EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia ( a Commonwealth portanto com excepção de África do Sul, devido aos direitos humanos). Nome atribuído ao que eu, europeia, represento para o resto do mundo, depois de uma viagem ao Cambodja em 2005, mas isso é outra história.
Neo-colonialismo na era pandémica
Crónicas da purga pandêmica com a guerra ao lado# 23(22.11.2022)
Nos revivalismos históricos da mitologia contemporânea do chamado “ocidente” da qual posso falar, porque fui doutrinada nesse sentido e faço parte.
Este mundial é um pouco o revivalismo histórico do jogos olímpicos de 1936.
Com um peso politico, moral que desde que somos democracias nunca tinha existido. Existiam fenómenos como a eurovisão. Mas com a dimensão global que o futebol acarreta, não. Com uma pequena grande diferença expõe de uma forma quase pornográfica a nossa falsa moral enquanto ocidente. Depois de 2 anos onde aceitamos a retirada de direitos conquistados dos trabalhadores e dos cidadãos, compactuamos com leis de censura e perseguição mediática, social, laboral a todos aqueles que tinham uma voz *“dissidente” sobre a narrativa oficial. Fosse o vírus, fosse a guerra. A grande diferença entre um e outro fenómeno é o tempo. Nesta nova época que iniciámos, a época pós-covid.
*esta palavra continua a fazer-me espécie, uma espécie de formigueiro. Eu ainda estou num regime democrático, certo?. As palavras mudam de sentido, é uma das características do tempo que vivemos... Mas para mim, Dissidente faz parte no meu léxico, de regimes autoritários. mas voltando ao tema
Nós os civilizados e democratas que lutamos pelos direitos humanos em nome do dinheiro suspendemos um pouco a nossa moral perante o conforto
Guerra é guerra. Eu portuguesa a viver em berlin. A viver em democracia, exijo que os meus representantes seja o governo e presidência portuguesa ou partidos com assento parlamentar. Queriamos a guerra aqui a temos. É optimofalar de guerras nucleares e III guerras mundiais a comer peixe fresco sentado à beira mar. São pessoas que estão a morre. Sempre foram. Falar de paz não significa ser de um lado ou do outro. Supostamente nós europeus evoluídos e de primeiro mundo somos capazes do debate e da contextualização e não cair em moralismos e moral bacoca e medieval. NÃO HÁ BONS E MAUS NUMA GUERRA. QUEM MORRE SÃO SEMPRE OS MESMOS. OS POBRES.


Mário: Eu, ainda que pecador, fiz profissão andar por esse mundo em busca de aventura e causas perdidas; por isso ando por estas solidões e descampados com o animo deliberado de oferecer o meu braço e a minha pessoa em ajuda dos fracos e necessitados. Aprendi, a perceber no rosto humano, com os olhos no horizonte e o horizonte num infinito de areia, as respostas que o vento traz e o consciente colectivo distribui.
Em Vinte e um anos fui escravo, pirata, amante e diplomata.... Tive numa ilha, 13 anos. Quando sai tinha o deslumbramento infantil de redescobrir um mundo novo.
O primeiro homem que vi diziam as vozes mais cínicas tinha enlouquecido, vivia ainda num tempo de quimeras, ética e honra, lutava contra gigantes e pela honra da sua amada. Passava as noites e os dias a ler.
Para ele era verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia. Não querendo ficar na inercia de nada fazer. Partiu. Para endireitar as injustiças e reprimir os abusos.
Não estranhas haver leis de censura
E vozes que se têm de calar
a liberdade de expressão é muito simples
é o pleno direito em discordar
Não estranhas que a ofensa seja a resposta,
À dúvida que possa existir,
Não estranhas que te façam odiar,
Aqueles que querem divergir?
Não te deixes vencer pela vergonha,
A liberdade é coisa para usar,
Mais importante que a opinião certa,
É ter espaço para a poder dar.



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Crónicas da purga pandêmica com a guerra ao lado. #18 (03.03.2022)
Berlim/Berlin, Alemanha/Deutschland
Eu cidadão europeia, que já nasci em democracia para que não existam equívocos.
Sou contra a Nato (pois como força de segurança e estabilidade no mundo, nada mais é do que a “corporação/cooperação” a mando da ideologia expansionista e imperialista dos EUA.
Havia guerra mas nós dançávamos.
Primeiro foi em nome da crise Pandémica.
A falta de debate. A perseguição laboral, social. A segregação.
E NÓS ACEITÁMOS. FICÁMOS CALADOS.
Depois veio a Guerra....
E NÓS ACEITAMOS. FICAMOS CALADOS. E CELEBRAMOS.
Para combater um estado ditatorial, autoritário, totalitarista, imperialista, fascista e todos os -istas que queiram dar mas do “Mal” a UE/EU cria leis ditatoriais, autoritárias, totalitaristas, imperialistas, fascistas e todos os -istas que queiram dar, mas do “BEM”, claro.
CENSURA É CENSURA
Combater a “intolerância com intolerância”, faz parte de um dos “Zeitgeister” do momento, eu percebo mas não concordo. Com intolerância só vem intolerância.
A Ursula von der Leyen e esta “direção” da União Europeia não me representa, não foi eleita e tem de ser responsabilizada pelas politicas anti democráticas e anti-europeistas que está a praticar em meu nome.
P.S (nota para Portugal): A perseguição mediática e politica que está a ser feita ao PCP é obscena, pornográfica e de bully, para quem vê de fora.
Os seus dois minutos de ódio foram dos “não-vacinados” para os comunistas.... Qual será o inimigo público do amanhã??? PROVAVELMENTE TU!!!! QUE FICASTE CALADO!!! TU QUE FOSTE INTOLERANTE!!! NO FIM: SEREMOS TODOS NÓS.

Márcia: também não me lembro de nenhum… (silêncio)
OFF. Todos os dias me encontro comigo mesma. Todos os dias me encontro numa raiva e odio profundos por alguma coisa. Apontam e eu vou, sem conceber que sou apenas uma partícula de pó, excitam-me a virtude e lá vou eu… partícula de pó, suspensa de lá para cá, de cá para lá. Fui ensinada assim, a obedecer, a não questionar, a ter maneiras. A libertar a frustração crescente, a rebentar em indignação, mas prostrada. Sou uma maçã estéril, nascida de uma arvore postiça. Não há solo, olho para baixo e não vejo nada, apenas o vazio e toda a sua vastidão abstrata, inconcebível. Depois morro em silêncio, de preferência. E para quê? A história é apenas uma tentativa para garantir um mapa. Mas se o tivéssemos de usar para voltar atrás, regressar ao ponto da origem… a surpresa seria grande, seria toda.



Patricia OFF: Eu passava horas a ver o movimento do horizonte… subtil, quase nada… Aos poucos, deixou de ser um horizonte. Era apenas a representação dele. Inatingível, como uma paisagem num quadro, concreto. Perdera o infinito, era apenas o que eu conseguia ver ali, pregado no fim do mar. À medida que o tempo passava, o horizonte ganhou outra dimensão, maior divina. Quando eu começava a acreditar que não havia mais nada, tudo se revelou. Percebi que a metafisica expande-se com o tempo. Percebi o meu papel na terra e desde então que vivo em plena felicidade.
A minha mãe dizia-me para eu ter cuidado com a metafisica, para me focar na escola e concentrar-me nas aulas, na matéria. Se lhe pudesse dizer, dir-lhe-ia que mesmo estando agradecida por tudo, ela enganou-se. Primeiro devemos sonhar, deslumbrarmo-nos e só então aprender a construir. Talvez seja esse o problema de tudo isto: aprender a formatar antes de perceber a forma das coisas.
Acho que é isso que levo, a perplexidade.

Tiago: Fantasmas de uma primavera embriagada de dourado e sal.
Gritos, palavras de ordem, engates, sonhos para o amanhã
Pequenas histórias de meninas de cabaret,
Nas noites frias, nas esquinas escuras, mal iluminadas as sereias cantam liberdade. Provocando a memória e os sentidos do velho do restelo para agir. Os corpos suados, os becos sem saída, as ruas perdidas da cidade, fazem pequenos décors para a vida não vivida de quem atravessa a cidade à procura do amanhã por cumprir.
Nesta pequena ilha peninsular
As vozes das sereias do tejo gritam por liberdade
Numa névoa do passado, com um cheiro a cravo
O sol instiga a pele a agir,
Na maresia do verão as ruas ocupam-se
Os corpos procuram o calor embriagante das noites quentes
Vivo a memória de uma biografia fragmentada que não foi escrita por mim
Nesta pequena ilha peninsular
As vozes das sereias do tejo gritam por liberdade
As pernas por nascer
Ana: Tudo se repete. As questões de ontem não podem ser as de hoje. Reciclagem de textos, de ideias. Para quê?!? Falar do quê?!?
Patricia: Mas...
Não será tudo isto mentira, e toda a coreografia da queda e da falha é isso mesmo uma coreografia, e o que nós estamos a fazer é sermos pós modernos
Será verdade que eles acreditam que podem mudar a verdade
Será verdade que isto é arte
Será verdade que somos apenas consumidores robotizados
Será verdade que as ideologias morreram
Será verdade que ainda estamos no pós- modernismo?
Será verdade que somos mesmo impotentes perante o que se passa no mundo
Será verdade que....
Vou cantar uma canção. É preciso mais luz, estamos demasiado sombrios, cínicos e pós-modernos. É preciso poesia e amor
Tiago: Tudo permanece na mesma, apenas já nada aqui se passa, a cúpula desapareceu, as quatro paredes caiadas caíram em cima de mim. No céu há uma lua. Direitas ao céu, autênticas paredes de pessoas. Não se ouve uma gargalhada, um simples murmúrio. Estão ali, suspensos no espaço insondável, esta enorme multidão.
Só a verdade, esta verdade que arde agora em mim, será reconhecível.
Esta vulgaridade que me destrói o cérebro. (pausa) Nem tudo é arte, mas o Nem Tudo pode ser alguma coisa, quando estagno e me limito a observar, a escutar, a dizer que disse. Onde fica a acção? Já fiz, já fiz, e fiz, e fiz, fiz….
Ana: Matámos deus e estamos inexoravelmente ancorados na matéria…
Presos ao lodo da matéria.
Se não nos resta mais nada senão isto; a minha carne, o líquido que me sai pelos poros, pelas veias, as excreções do corpo que definha dia após dia… desesperadas unidades de consumo à espera de suceder na sua utilidade.
Eles não querem saber de ti. Tiraram-te Deus e só te sobra uma reacção emocional. Sem raciocínio, reagir apenas, cobardemente. Frase a frase, momento a momento. À mesma hora, àquela hora. A complexidade foi tomada, desmantelada e hoje é somente um fantasma, um cadáver que é agitado para meter medo às crianças…
Ana: Eu gostaria de conseguir explicar tudo muito bem.
Ou melhor, eu gostaria de entender tudo muito bem… penso se não seremos apenas primatas deslumbrados com as nossas ferramentas…
o primeiro homem que afiou um pau, de certeza que o enfiou no olho… a criação leva tempo a compreender… seja o que for, uma ferramenta ou um filho… perplexidade é o que tenho.
Patrícia: Para dizer a verdade não sei nada
Coisa-pessoa, não pessoa coisa... Esta mulher que aqui estás.
Esta mulher que fala. Esta mulher que está aqui e fala de estar aqui. Quem é ela? Uma vida postiça. Minha ou dela?
Para dizer a verdade não sei nada,
Não me magoo, se alguém me pisar eu não dou importância pois não sinto nada, só não gosto que me chamem ignorante, não existe nada pior do que ser ignorante.
Afinal, a melhor maneira é sentir tudo de todas as maneiras.
É sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são excessivas
Toda a realidade é excessiva,
Toda a realidade é uma violência,
Queriam-me casada, fútil, quotidiana e tributável. Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa.
O Winston Smith (1984) é um "fact checker"...
Márcia: E começar, recomeçar. Talheres a preencherem-me as mãos, novas etiquetas o pensamento. Mas sempre cheios de fome, acobardados pela fome, eternamente à espera do momento em que mais uma vez não a veremos saciada. Um banquete eterno abundante em nada.
É isso que somos, esfomeados, à mesa preparados, de boca aberta, para o banquete eterno…
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços.
Quantos o mundo pode dar. Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
e até as estrelas, ao que parece.
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...”


Esta que eu sou. Que não pode falar. Não pode pensar. E que tem de falar, e portanto pensar, talvez um pouco... Não gosto que me deem o braço. Quero ser sozinha. Já disse que sou sozinha! E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero ser sozinha. Uma pessoa humana, uma pessoa não coisa...
Não estranhas que há sempre um monstro
Uma crise e um lado para escolher
Não estranhas que te queiram entretido
Não estranhas que te queiram adormecer
Não estranhas que te chamem dissidente
que é coisa que não há em liberdade,
Não estranhas dizerem-te que só és bom,
Se concordares com uma certa verdade?
Não estranhas haver tantos perigos?
Que te excitam o medo sem parar
e que te tornas o inimigo
Se tens duvidas e procuras questionar
Qvando às vezes ponho diante dos olhos os muitos & grãdes trabalhos & infortunios que por mim passarão, começados no principio da minha primeira idade, & continuados pella mayor parte, & milhor tẽpo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da vẽtura que parece que tomou por particular tenção & empreza sua perseguirme, & maltratarme, como se isso lhe ouuera de ser materia de grande nome, & de grande gloria, porque vejo que não contente de me por na minha patria logo no começo da minha mocidade, em tal estado que nella viui sempre em miserias, & em pobreza, & não sem alguns sobresaltos & perigos da vida me quis tambẽ leuar às partes da India, onde em lugar do remedio que eu hia buscar a ellas, me forão crecendo com a idade os trabalhos, & os perigos. Mas por outra parte quãdo vejo que do meyo de todos estes perigos & trabalhos me quis Deos tirar sempre em saluo, & porme em seguro, acho que não tenho tanta razão de me queixar por todos os males passados, quãta de lhe dar graças por este só bẽ presente, pois me quis conseruar a vida, paraque eu pudesse fazer esta rude & tosca escritura, que por erança deixo a meus filhos
Adiamento
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...



































































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